"Desta vez, um novo ataque terminou numa lâmina negra, desembainhada pelo homem de olhos azuis. Tinha de combater.
Durante pouco mais de cinco minutos, as duas figuras atacaram e bloquearam investidas violentas, evitando que os golpes terminassem noutro lugar que não as armas majestosas.
A armadura não falava nem soltava qualquer ruído humano, sendo por isso difícil de saber se acusava cansaço; o mesmo não se podia dizer do seu adversário, cujo ranger de dentes ou franzir da vista assinalavam sinais de fadiga. Um corte na perna esquerda do homem paralisou-o. Olhou para trás de si e viu apenas as Nuvens Baixas, por baixo das quais aguardava certamente o Abismo.
- Noutro dia terminaremos este embate. Saberás onde me encontrar.
Enquanto falava, o corte infligido pela lança ganhara um contorno prateado. A armadura repetiu o movimento de negação. O homem guardava a espada.
- Vem.
Mas o homem não falou para a armadura guardiã. Os olhos azuis estavam agora completamente negros, uma escuridão que se começou a espalhar pelo resto do corpo. Das Nuvens Altas, uma ahve desmedida mergulhou em direcção à sombra. A armadura ainda tentou atingir o monstro, mas em vão. Apenas podia apreciar o espéctaculo ímpar.
Avistar uma ahve era sinal de boa fortuna. Se o tamanho da ahve acresce sorte, esta garantiria uma vida longa e feliz.
Cauda e asas reinavam em com riscas brancas e pretas, envolvendo um manto denso de penas castanhas do tronco. O bico da ahve era comprido e uma crista extravagante ajustava-se para conferir maior dinâmica no voo. O homem-sombra era de novo homem vulgar, agarrado com uma mão ao pescoço da criatura alada e outra rodeava a ferida recente. A armadura já não estava à entrada da Caverna: tinha desaparecido.
O homem sorriu a segunda vez naquele dia. Não tinha escapado à sina do provérbio. Estava marcado até ao fim dos seus dias. Até lá, recordaria para sempre a viagem na Grande Ahve. A criatura fantástica conhecida como Hoopoe.
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